Saúde Mental
Não há saúde sem saúde mental
A saúde mental e os problemas que lhes estão associados têm sido negligenciados ao longo dos tempos um pouco por todo o mundo. O estigma, os preconceitos e os medos relacionados com os problemas psicológicos explicam em parte esta subvalorização e ajudam a entender melhor porque é que, frequentemente, as pessoas que sofrem deste tipo de dificuldades têm sido vítimas das mais variadas formas de discriminação e de exclusão social, evitando ou adiando o pedido de ajuda e agravando o seu estado psicológico. O progresso do conhecimento científico tem vindo a demonstrar que os preconceitos e os medos que alimentam o estigma associado à saúde mental não passam de mitos e de ideias sem qualquer fundamento. Por exemplo, é muito comum a ideia de que a saúde mental é algo separado da saúde física. Esta ideia, contudo, não corresponde à realidade.
Apesar disto, e em particular mais recentemente, parece que esta situação tem vindo a mudar. As pessoas mostram uma maior preocupação com este tema e maior consciência de que a saúde mental é uma parte essencial da saúde no seu global. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2006) definiu que a saúde em geral não é “a mera ausência de doença ou enfermidade”, assim como a saúde mental não é apenas a ausência de doença mental. A saúde mental é “um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades próprias, pode manejar dificuldades normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutuosa, e é capaz de prestar uma contribuição para a sua comunidade” (OMS, 2016).
Segundo um estudo realizado na Europa em 2012, as doenças mentais são “o maior desafio da saúde do século, colocando uma ameaça séria para os nossos sistemas de saúde e social, assim como para o futuro da economia da Europa”.

Mas de que falamos quando falamos em saúde mental? De facto, a área da saúde mental é muito vasta e integra diversos fenómenos, por isso é muito frequente encontrarmos ideias confusas acerca deste assunto. A saúde mental inclui: 1) a saúde mental positiva que constitui a base do bem-estar mental, do funcionamento adaptativo e da capacidade de relacionamentos das pessoas; 2) as doenças mentais que são entidades patológicas caracterizadas por um conjunto de sintomas e sinais psicológicos e comportamentais associados a sofrimento psíquico e, por vezes, a algum grau de incapacidade e disfunção; 3) os problemas de saúde mental relacionados com situações que envolvem algum sofrimento psíquico, embora não cumpram os critérios definidos para o diagnóstico de uma doença mental (por exemplo, uma pessoa que tem sintomas de depressão ou de ansiedade numa determinada fase da sua vida ou em reação a um acontecimento de vida). Tudo isto é saúde mental…
Hoje em dia, e no futuro, faz cada vez mais sentido falar-se na promoção da saúde mental. Inúmeros estudos epidemiológicos têm vindo também a confirmar a noção empírica de que muitas das patologias psiquiátricas dos adultos têm início antes dos 18 anos de idade, o que faz com que as crianças e os adolescentes sejam um público-alvo prioritário para a promoção da saúde mental. Nos últimos 20 anos a investigação tem apontado que é possível obter resultados muito positivos na prevenção de algumas doenças, bem como do suicídio, através da intervenção precoce e atempada e da aplicação de programas que desenvolvam a capacidade de resiliência e outros recursos pessoais. Outra forma de promover a saúde mental é através da sensibilização dos vários atores envolvidos e do combate ao estigma e à discriminação através da disseminação da literacia em saúde mental.